Decreto proibe venda de Bebidas alcóolicas para controlar COVID-19

A Prefeitura de Araguaína, segunda maior cidade de Tocantins, baixou um decreto que proíbe a venda de bebidas alcoólicas no município, que é o primeiro em número de casos do novo coronavírus no estado. A decisão do prefeito Ronaldo Dimas (PR) prevê que sem álcool, pessoas irão reduzir reuniões em suas casas, como festas e churrascos, diminuindo o índice de transmissão na cidade.

A medida causou grande resistência dos comerciantes, que também são contra a quarentena. O decreto nº 222/2020 veio após diversas medidas controversas da cidade, que chegou a baixar uma lei permitindo a reabertura do comércio no início de abril. Após a decisão, o número de casos cresceu, especialmente em pessoas mais jovens. 54% dos infectados na cidade têm menos de 40 anos.

O prefeito anunciou que a decisão tem como fim acabar com as aglomerações em residências: “Dentro dessa nova realidade, está indo de encontro ao que vem acontecendo, por causa de festas que vêm ocorrendo e não está sendo respeitada a não-aglomeração”, afirmou em coletiva de imprensa.

Entre outras medidas, a resolução de Dimas ainda proibiu a entrada em parques municipais e manteve o fechamento de serviços não essenciais, mas manteve a operação de parques industriais e da agricultura, que constituem parte importante da economia do estado de Tocantins. Autoridades ainda apontam que o número de casos na região aumentam devido ao alto tráfego de caminhões da BR-226, que liga a capital Palmas a diversas capitais do Nordeste.

Consumo de álcool durante a pandemia de coronavírus
A decisão polêmica de Dimas pode ser vista como uma afronta às liberdades individuais, mas é altamente recomendada pela Organização Mundial da Saúde. No dia 14 de abril, o principal órgão de monitoramento da pandemia de coronavírus pediu aos governos que limitassem o consumo de bebidas alcoólicas durante o período.

Nuuk, capital da Groenlândia, foi outra cidade que proibiu o consumo de álcool durante a pandemia de coronavírus

“Durante a pandemia, devemos realmente nos perguntar quais são os riscos que estamos tomando em deixar pessoas trancadas em casa com uma substância perigosa tanto para suas saúdes quanto pelos efeitos no comportamento, inclusive violência”, afirmou Carina Ferreira-Borges, gerente do Programa de Álcool e Drogas Ilícitas da OMS na Europa, em comunicado oficial.

Conforme provavelmente você já percebeu, o consumo de álcool durante a quarentena causada pelo coronavírus aumentou bastante; segundo a consultoria Nielsen, as vendas de bebidas alcoólicas cresceram 55% nos EUA. No Reino Unido, a ONG Eurocare mapeou um aumento de 22%. Segundo o portal Ig, os supermercados brasileiros tem apontado um crescimento de 20 a 27% na venda de bebidas no nosso país.

A Prefeitura de Araguaína não foi o primeiro governo a promover uma lei seca do coronavírus. A Tailândia, Bangkok, anunciou a decisão no dia 1º de maio. “Nosso governo não quer que as pessoas se reúnam em grupos, nem mesmo em casa, tendo em vista que isso aumenta o risco de transmissão da covid-19”, afirmou o secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional da Tailândia, Somsak Rungsita, ao The Bangkok Times.

A África do Sul também adotou a política durante a crise do coronavírus. Os resultados são surpreendentes: como a maioria dos episódios de violência estão relacionados ao álcool, a lotação nos hospitais por violência foi reduzida. As internações por acidentes de carro, cirrose e violência doméstica caíram 2 terços no país, aumentando a capacidade do sistema de saúde para atender a demanda causada pela pandemia.

“Se acabarmos com a proibição da venda de álcool, veremos, em média, 5 mil admissões hospitalares por trauma relacionado ao álcool por semana”, previu o professor Charles Parry, chefe do Centro de Pesquisa Médica da África do Sul, à BBC.

Além disso, estudos comprovam que o consumo de bebidas alcoólicas durante a quarentena é bastante danoso: o álcool reduz a capacidade do sistema imune, dificultando que o corpo lute contra o novo coronavírus e podendo levar a quadros graves da doença, aumentando a demanda do sistema de saúde e causando mais mortes.

“Esse período de isolamento pode levar a um aumento do uso abusivo do álcool e potencialmente aumentar o número de dependentes a longo prazo, além de aumentar a chance de recaída de pessoas em recuperação. É possível eu criemos um outro problema de saúde pública durante e depois da pandemia”, afirmou o Professor Matt Park da Universidade de Portsmouth ao The Independent.