UFMG quer ser ouvida sobre a Stock Car em BH

Fotos: Luiz Santana/ALMG

UFMG quer ser ouvida sobre a Stock Car em Belo Horizonte

Corrida na Pampulha pode causar prejuízos que vão da poluição sonora e do bloqueio de vias no entonto da universidade à interrupção de pesquisas científicas.

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) reforçou seu posicionamento contrário à realização de uma etapa do Campeonato Brasileiro de Stock Car no entorno do Mineirão, em audiência pública da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia, nesta terça-feira (16/4/24).

Fotos: Luiz Santana/ALMG

Após uma visita técnica à universidade, a comissão da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) se mobilizou mais uma vez para tratar dos impactos da Stock Car nas atividades de ensino, pesquisa e extensão da UFMG, cujas unidades se situam a algumas dezenas de metros de onde seria o circuito da corrida.

Presidenta da comissão e autora do requerimento de audiência, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) afirmou ter constatado na visita prejuízos ambientais, sociais e para o desenvolvimento da ciência e tecnologia, que confirmam a necessidade de mudança de local do empreendimento.

Entre esses prejuízos, ela citou a poluição sonora e o bloqueio do acesso a departamentos da universidade, fatores que causariam até mesmo a interrupção de pesquisas científicas.

A deputada Bella Gonçalves (Psol) corroborou críticas à falta de abertura ao diálogo por parte da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e à dispensa de licenciamento ambiental para liberação da corrida, tratada por parlamentares e a comunidade acadêmica como mais do que um simples evento na cidade.

Assim como o deputado federal Rogério Correia (PT-MG), ela discutiu a possibilidade de judicialização da questão, tendo em vista que a PBH e os organizadores parecem decididos a manter o empreendimento conforme planejaram.

Posição da UFMG foi historicamente respeitada

A reitora da UFMG, professora Sandra Regina Goulart, destacou que a universidade não é contra a Stock Car, mas sim contra sua realização naquele local. No seu entender, a instituição foi desrespeitada, ao não ter sido ao menos consultada.

Nesse sentido, lembrou momentos históricos em que o veto da UFMG foi decisivo para que o poder público recuasse em relação a projetos no seu entorno.

De acordo com a reitora, quatro acessos da universidade serão bloqueados pelo empreendimento: o estacionamento que atende o Instituto de Ciências Biológicas, o Hospital Veterinário, o Centro Esportivo Universitário (CEU) e o Centro de Treinamento Esportivo (CTE).

Para Sandra Goulart, no intuito de justificar o empreendimento, seus efeitos econômicos foram superestimados. Além disso, ela ponderou a necessidade de se investir no turismo sustentável e responsável, que iria na contramão da etapa da Stock Car.

Animais são mais sensíveis ao barulho

O ronco dos motores dos carros da Stock Car, sempre acima dos 110 decibéis, pode comprometer a qualidade e até mesmo a sobrevivência dos animais residentes ou internados nos espaços da UFMG.

Vice-diretora da Escola de Veterinária, Eliane Melo disse que o barulho causa estresse e convulsões nos animais, como cães, gatos, cavalos e ruminantes, podendo resultar até em fraturas e na consequente eutanásia daqueles de grande porte. As atividades de pesquisa também seriam prejudicadas, pelas condições dos animais e pelos problemas de acesso à universidade.

Situação que também preocupa o Biotério Central, de onde saem anualmente mais de 23 mil roedores padronizados para pesquisas científicas. A temperatura, as vibrações, a luminosidade e os ruídos alteram padrões fisiológicos e reprodutivos dos roedores, acarretando a morte de muitos deles, segundo Adriana Dias, coordenadora do Biotério.

Ou seja, além de perder animais já preparados para as pesquisas, a universidade também perderia trabalhos em andamento, com a inviabilidade dos parâmetros de comparação.

Paralisação pode custar medalhas olímpicas

Luciano Silva, diretor do CEU, e Maicon Albuquerque, diretor do CTE, comentaram os prejuízos do cerco a ambas as estruturas para atletas amadores e de alto rendimento.

O CEU recebe diariamente uma média de 300 pessoas, para atividades de lazer, ensino, pesquisa e extensão. Cerca de 600 atletas se preparam semanalmente no CTE, o único espaço na cidade adaptado para o treinamento de muitos deles. Nesse sentido, o diretor Maicon destacou que a paralisação das atividades pode alijar atletas da disputa por uma medalha olímpica ou paralímpica, em Paris.

BH Stock Festival

Estão previstos quatro dias de evento, de 15 a 18 de agosto, quando acontecerá o chamado BH Stock Festival. O contrato firmado entre a PBH e os organizadores prevê a realização de provas no entorno do Mineirão por cinco anos.

A etapa de agosto será a primeira em BH da mais importante categoria do automobilismo brasileiro. O campeonato tem 12 etapas, começou em março, em Goiânia, e se estenderá até dezembro, com o encerramento em Interlagos, em São Paulo.