Pacientes recuperados da Covid, relatam momentos de sofrimento diante da gravidade da doença
“Para as pessoas que não acreditam, que acham que não vai acontecer com elas e com alguém que elas amam, tomem muito cuidado. A Covid-19 é muito séria, só quem já passou por uma situação extrema no hospital com um ente querido ou, está passando por isso, consegue entender o real perigo da doença. O vírus está aí e a gente sabe que não são todas as pessoas que têm cuidado e que adotam as medidas restritivas.”
Esse é o alerta do servidor público, Bruno Henrique Rampinelli, que recentemente passou por momentos de aflição com a esposa grávida com Covid-19 e seu bebê. Ludmila Rampinelli, de 40 anos, precisou ser internada com 33 semanas de gestação após testar positivo para Covid-19 e sentir fortes dores na perna. Com o receio de ser uma trombose, a grávida passou por uma série de exames no Hospital Márcio Cunha, administrado pela Fundação São Francisco Xavier, e foi detectado que ela estava com os níveis de coágulo no sangue dez vez maiores do que o normal.
Ludmila foi internada e depois precisou ser intubada para realizar a cesárea. A bebê Ísis foi intubada logo ao nascer. “Foram momentos de muita angústia. Nossa criança nasceu desacordada, ficou um dia intubada e graças a Deus melhorou em seguida. Minha mulher ainda lutou pela vida durante 12 dias na UTI. É um sentimento de aflição inexplicável. O processo de recuperação pulmonar é lento. Ela chegou a ter 75% do pulmão comprometido. Foi Deus, as orações e a equipe médica que trouxeram minha esposa e minha filha de volta”, agradece Bruno. Ludmila teve alta do hospital no último dia 21 e está se recuperando bem em casa.
Outra família que passou por momentos de dor e angústia devido à covid-19 é a da senhora Nilza da Silva Santos, de 79 anos, moradora de Barão de Cocais. A filha Fátima, conta que o pai Daniro Ricardo dos Santos, de 86 anos, que já sofria com Alzheimer pegou Covid. “Ele foi o primeiro a ter os sintomas e logo depois 11 pessoas da nossa família também tiveram a doença, entre elas filhos, netos, genro, nora e a nossa mãe Nilza. A Covid-19 aumentou ainda mais a fragilidade do meu pai. Ele faleceu em um dia e no outro minha mãe foi internada”.
Dona Nilza passou 40 dias internada no Hospital Municipal Carlos Chagas, em Itabira, administrado pela Fundação São Francisco Xavier, sendo 15 dias intubada. “Toda a nossa família sofria. A doença é muito mais agressiva do que a gente imagina. Uma coisa é você ver na TV, a outra é ver um familiar passando mal no hospital, acompanhar a rotina frenética de pacientes com Covid. É um processo muito dolorido e para nós, que tínhamos acabado de perder o nosso pai e ainda ter que buscar forças para acompanhar a nossa mãe, foi muito difícil”, lembra Fátima.
A filha da Dona Nilza conta que sempre foram cuidadosos com as medidas preventivas à Covid-19. “Na entrada da casa da nossa mãe, minha irmã já tinha colocado um cartaz proibindo a entrada de pessoas sem máscara. Mas acredito que podíamos ter sido ainda mais cautelosos”, ressalta. Atualmente dona Nilza se recupera em casa. “Foi um milagre ver a minha mãe bem depois de tudo que ela passou. Fomos muito bem atendidos por toda a equipe médica do hospital, médicos, enfermeiras e assistentes sociais”, conta.
Para Fátima o sentimento ao ver uma pessoa na rua sem máscara atualmente é de frustração. “Quem não passou por isso não tem a menor ideia do que seja a doença. Fico desolada quando vejo o desrespeito das pessoas com as outras”. O sentimento é compartilhado por Dona Nilza. “Eu peço a vocês, tenham respeito um com o outro, tenham cuidado porque a doença é muito perigosa. A Covid levou o meu marido e eu também fui vítima dela”, desabafa.
“Eu pensei que fosse morrer. Eu não desejo o que passei para o meu pior inimigo”. O relato é do vigilante Edio Andrade Miranda, de 59 anos. Casado há 36 anos e pai de três filhos, ele ficou 26 dias internado com Covid-19 no Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga.
A doença no senhor Edio progrediu rapidamente. Em um dia ele começou a sentir dores no peito e pensou que fosse um infarto e no outro ele precisou ser internado às pressas em uma Unidade de Tratamento Intensiva. “No começo eu estava lúcido, tomando antibiótico e ligado ao oxigênio. Cheguei a ir para a enfermaria e depois de um tempo passei a sentir muita falta de ar e aí fui intubado. É muito triste ficar no hospital com essa doença. Quando eu podia conversar com minha família por chamada de vídeo, era o melhor momento do dia”, lembra.
Para Edio, a lição que fica é de cuidar do outro e alertar as pessoas. “A doença é perigosa demais. Tenho colegas que andam sem máscara por aí. Daí eu vou e falo tudo que passei. Não deixo de contar e pedir para todos usarem máscara, usarem álcool em gel e manterem o distanciamento social”, comenta.
Alerta máximo
Para o coordenador de ensino e pesquisa da Fundação São Francisco Xavier, dr. Milton Henriques Guimarães Junior, o momento é de alerta máximo. “O problema é muito sério, muito real. Infelizmente estamos enfrentando um novo pico da doença, antes de chegar a vacina para todo mundo. Nestas horas, o que vai ajudar é o uso correto da máscara, o uso do álcool em gel e, aqueles que conseguem ficar em casa e evitar a exposição, devem ficar”, aponta.
O médico explica que a gravidade da doença nesta segunda onda pode ser notada no aumento do tempo de permanência nas UTIs e no número de óbitos. “Para fazermos um paralelo da gravidade da doença, em um CTI geral temos uma média de permanência do paciente de 4 a 6 dias e um índice de mortalidade de 7 a 9%. Na pandemia da Covid-19 estamos falando em uma taxa de permanência de 14 dias e um óbito de 50%”, aleta.
Dr. Milton ressalta que é preciso a cooperação de todos na luta contra a covid-19. “Basta uma ocasião, um jantar com amigos, um churrasco com a família para alguém se infectar com o novo coronavírus. Vamos evitar esses momentos. Se protejam, usem EPIs, evitem aglomeração. A saúde é o nosso bem maior”, destaca.