Insegurança de barragem e alarmes falsos afligem comunidades da região de Santa Bárbara
Riscos e sirenes indevidas têm gerado falta de confiança no sistema de alerta da mineradora
Moradores de Santa Bárbara (Região Central) reclamaram de descaso da mineradora Anglo Gold Ashanti com problemas em barragem de rejeitos, além de sirenes de alerta supostamente acidentais, que geram pânico na população. As acusações foram apresentadas na sexta-feira (8/11/24) durante visita da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) à estrutura da barragem da Minas Córrego do Sítio 2, na comunidade de Brumal. Na ocasião, houve uma reunião com moradores da região.
A comissão recebeu reclamações a respeito de contaminação do solo, trincas em imóveis e insegurança em relação à barragem da mina, que funciona há 38 anos, mas estaria com a operação paralisada desde agosto de 2023. Os moradores se queixam de que as falhas da empresa causam danos socioeconômicos e psicológicos a todos que residem no entorno. Além dos temores sobre segurança das estruturas da barragem, os parlamentares foram verificar denúncias de repetitivos acionamentos indevidos de sirenes, que causam trauma e pânico, além de minar a confiança da população na efetividade dos equipamentos de alerta da mineradora.
Moradores reforçam que os alarmes falsos são recorrentes, provocando aflição e desconfiança nos habitantes de localidades vizinhas à mina. Residente da Comunidade do Carrapato, um dos locais em que as sirenes soaram desnecessariamente, Silvana Ferreira afirma que já foram seis ocorrências desde 2019. A irmã de Silvana, Daniela Ferreira, diz que a empresa ignora a comunidade. “É como se os moradores fossem invisíveis para a mineradora”, critica Daniela.
A situação aflitiva e repetitiva também preocupa o professor Marcelo Soares Aquino, que leciona na escola da Comunidade de Brumal. Ele relembra os momentos de ansiedade que viveu durante o último alarme falso, enfatizando ainda o desespero e o pânico dos 24 estudantes que acompanhava no momento da sirene desnecessária. Quando conseguiram chegar ao ponto de encontro próximo à escola, não havia nenhuma estrutura de socorro. O educador avalia a ocorrência como um trauma perene para as crianças.
Antes de a comissão visitar a barragem da mina, representantes da Anglogold Ashanti citaram auditoria feita por duas empresas externas para garantir que a estrutura está segura e estável. Segundo eles, desde 2022, a empresa utiliza sistema de disposição a seco de rejeitos por meio de pilhas. Afirmaram, ainda, já existir planejamento para iniciar o descomissionamento da barragem, desativando-a completamente.
Falta de confiança
A mineradora reconheceu falhas nos sistemas, o que teria ocasionado as sirenes de alerta indevidas, e emitiu nota de desculpas à comunidade. Pedido que foi criticado pelos moradores, houve avaliações de que a ação foi vergonhosa e lamentável.
“Eu acho que esse pedido de desculpas já virou piada. Sabemos que falhas acontecem, uma é normal, equipamentos e humanos podem falhar. Mas seis vezes já não é mais motivo de desculpas, é um despreparo muito grande. A empresa já não tem a confiança da comunidade, nós não acreditamos mais nessas supostas falhas nos equipamentos, não temos mais segurança em nada que venha da parte da empresa”, avaliou Daniela Ferreira
Para o tenente Jairo Rocha, da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil, órgão responsável pela fiscalização e preparação da comunidade para situações de risco, as sirenes desnecessárias podem gerar descrédito da população nos sistemas de alarme. Ele chama a atenção para a importância de a empresa e os órgãos públicos de defesa civil, estadual e municipal, trabalharem para restabelecer a confiança da comunidade nos alertas.
Autora do requerimento que propôs a visita à mina e a escuta das comunidades, a deputada Bella Gonçalves (Psol), avalia que, além de mais rigor na punição à mineradora, existe necessidade de se criar uma legislação específica para regular também o funcionamento das sirenes.
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